Elegia.

Félix Barros
1 min readJun 26, 2024

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Desculpa, meu amor. Eu passei muito tempo procurando o seu rosto pelos vagões do metrô. Te escrevi cartas que nunca enviei, mas todas encerradas com meu beijo mais sincero. Comprei potes de sorvete aos sábados. Assisti a filmes de romance abraçado às minhas almofadas patéticas. Parecia você ali na tela. E um sorvete salgado de choro. Um choro amargo de saudade. Uma saudade de memória doce. Que hoje já não tem gosto de muita coisa. O passado tem um sabor que se perde no ar de um túnel escuro.

Desculpa, meu amor. Eu divago muito. E quando percebi, já me vi longe da zona de conforto que é a dor de carregar um coração partido pela rua. Caminho por aí como quem levemente acordou de um coma particular. Nada mais se parece com você. Não moro mais na mesma casa. Não sei o que fazer com essa pia cheia de louças. Não sei quem é essa pessoa que não te ama. A verdade é que a gente morre muitas vezes durante a vida. Não poderia ser diferente.

Desculpa, meu amor. Eu morri sem querer nas minhas próprias chamas. E a cada ida ao metrô, carta, sorvete, sábado, filme, eu te matei aos poucos também. Saudade virou tom de cinza, como tudo que muito queima.

Eu sinto muito. E sinto.

Muito.

Desculpa, meu amor.

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