Felipe

Félix Barros
2 min readApr 26, 2024

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Felipe são dois rios. É confluência de passado e futuro. É nostalgia que abraça a esperança.

Felipe é meu irmão mais novo e também um tico meu pai. Um ancião sábio e um bebê embalado no berço.

Felipe chora vendo desenho e dorme quando troveja. Lê onde não aparece nada escrito, sempre legenda o que ninguém entende.

Felipe sabe de tudo. E fala como se todo mundo soubesse mais que ele. Só que mente sem maldade. É que ele entende o segredo da vida. Exala tudo desde pequeno.

Eu queria ser Felipe às vezes. Cantar o que vem na cabeça dele. Aliás, ser Felipe deve ser muito bonito. Mas é melhor ver Felipe ser Felipe. Ninguém saberia ser o que ele é.

Felipe doma feras com afagos. É amigo do tempo. Felipe é um delta de muitas ilhas.

Eu nunca quis que Felipe crescesse. Mas ele desabrocha como um prédio de 90 andares. Arranha as nuvens e as devora como algodão doce. Felipe é o semideus mais frágil, por isso o mais poderoso.

Ele é colo. É solo. Felipe é celeste.

É a força do oceano avançando com inveja sobre o Amazonas e a delicadeza do orvalho sobre uma pétala qualquer às 5 da manhã.

Se o universo se comprimir de novo em uma única partícula, de algo estou muito certo: tudo vai passar.

Mas Felipe não.

Felipe flutuará.

E todos os dias estendo os meus braços para alcançá-lo no ar.

Abraço Felipe como se fosse capaz de impedir que ele morresse um dia.

Pobre coitado que sou, como se Felipe coubesse em jaulas. Quanto mais no meu amor simplório.

Eu sou fumaça, Felipe.

Mas te amo como quem queima.

Cantando a mesma canção de quando te tomei nos braços desde menino.

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