maraçá.

Félix Barros
2 min readOct 18, 2023

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Todos os “quase” têm um cheiro doce que não trazem a certeza de serem propriamente um perfume. Não sei se água saborizada mata sede, se sobremesa sacia, se meio desejo é tesão. Não sei.

A janela entreaberta me deixa ver algo do sol no poente, mas é só o horizonte por uma fresta estreita. A porta ficou fechada. Eu não sei se me arrependo. Nem sei se sou feliz. É tudo um grande “talvez” que vou engolindo como um vinho seco que desce com certa dificuldade.

Eu queria te dizer mais do que consigo. Mas já faz tempo, não me lembro mais de muita coisa. Foram as minhas escolhas, os caminhos que decidi seguir ao partir me trouxeram aqui.

E pode ser apenas a minha dor. Mas isso não é você. Você é bem mais. Muito mais que as minhas jaulas interiores. Mais que os amores que me derrotaram, mais que as linhas que escrevi de coração partido. Você não estava em nenhuma delas. Ao contrário dos amores que vivi, você não me destruiu. Eu não tive do que me recompor.

Também não sei o quanto te destruí. Eu sei que tenho espinhos. Sei que o seu olhar brilha menos quando me vê hoje. Mas não me leve a mal: eu fiz o que achava certo – com todo o meu potencial de errar. Não foi você.

Podia ter sido, eu dormiria melhor depois de tantos anos.

Apenas sorria e perceba a minha ausência de orgulho. Porque eu não me orgulho de não ter sido você. Mas me orgulho de ter sido o amor da sua vida. Sei que fui.

Eu, mais que ninguém, aprendi que amar também é saber perder. Você me consolaria. Ou se sentiria consolado pelo que me dói. Difícil saber ao certo.

Não importa. O meu carma é outro.

Fique com as minhas pétalas – aquelas que nunca te ofereci.

Em nome do nosso “quase”, eu aceito os seus espinhos, por quase ter sido feliz.

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